30 março 2008

“Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer.”


Entendido à luz do contexto, este verso de Jo 6.44 não é tão problemático como pode parecer. O próximo versículo (45) diz, “Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus.” O todos não deve ser negligenciado. Como alguns têm dito, o Pai deseja atrair todos que desejam ser atraídos. No versículo 51 Jesus disse, “Eu sou o pão vivo... Se alguém comer deste pão, viverá para sempre.” Se alguém. E este último versículo conclui, “Minha carne, que eu darei pela vida do mundo.”


O versículo 44 é precedido pelo versículo 40, sendo idênticas as últimas palavras em cada um. O versículo 40 diz, “A vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna....” Assim, ver e crer precedem a afirmação da atração. Similarmente, o versículo 37, “Todo o que o Pai me dá virá a mim,” é precedido pelo versículo 35, “Aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede.”


Além do contexto imediato, é interessante verificar declarações significativas tanto no capítulo anterior quanto no seguinte. No capítulo 5.40 Jesus revelou o papel de responsabilidade que o homem representa, nas palavras, “E não quereis vir a mim para terdes vida.”


A evidência é que eles podiam vir, mas a falha estava justamente neles, “não quereis.” Então, no sétimo capítulo, o versículo 17, Jesus disse, “Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus,” o que mostra que depende da pessoa, “se alguém....”


Quanto ao ser atraído, em 6.44, precisamos apenas nos voltar para o capítulo 12 para ver seu desenvolvimento mais completo. Em 12.32 Jesus disse, “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim.”


Sobre este verso no capítulo 12, F. Godet disse: “Alguns limitam o todos aos eleitos; outros dão este sentido: homens de toda nação.... Mas atrair não necessariamente significa uma atração eficaz. Esta palavra pode se referir apenas à pregação da cruz por todo o mundo e a ação do Espírito Santo que a acompanha. Esta atração celestial não é irresistível.” (Commentary on the Gospel of John, Vol. II, p. 228)


Um pregador e professor batista, o Dr. A. J. Wall, disse: “A mesma palavra para ‘atrair,’ usada em Jo 6.44, é também usada em Jo 12.32. Ninguém pode vir sem ser atraído, e Jesus disse, ‘Todos atrairei a mim;’ por isso, todos os homens têm chances iguais de serem salvos. Ninguém se perderá porque não foi atraído a Cristo, mas muitos se perderão porque deixarão de crer e de render-se à atração de Cristo.” (The Truth About Election, p. 20)


Um outro pastor e escritor batista, Carey L. Daniel, disse sobre isto: “É nossa crença que Deus Pai atrai todos os homens que ouvem o evangelho pregado no poder do Espírito. Isto não é dizer, obviamente, que todos eles se renderão a este magnetismo. Há alguns que incorretamente interpretam a palavra ‘atrair’ como ‘arrastar’ ou ‘forçar,’ e então concluem que há certas pessoas que não poderiam ir para o inferno mesmo se quisessem e outras que não poderiam ir para o céu se quisessem.” (The Bible’s Seeming Contradictions, pp. 45-56)


Até D. L. Moody, após citar Jo 6.44, disse: “Bem, digo que Cristo está atraindo os homens. ‘Eu, quando for levantado... todos atrairei a mim.’ Ele está atraindo os homens, mas eles não virão. Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, e atraindo os homens a Ele. Esta atração está acontecendo agora, mas muitos corações estão lutando contra os esforços do Espírito. Deus está atraindo os homens para o céu, e o diabo está atraindo-os ao inferno.” (Select Sermons, p. 112)


Eruditos entendidos da língua original confirmam essas opiniões, como por exemplo, Dean Alford, que disse sobre Jo 6.44: “Que esta ‘atração’ não é a graça irresistível, é confessado até mesmo pelo próprio Agostinho, o grande defensor das doutrinas da graça. ‘Se um homem... vem indispostamente, ele não crê; se não crê, ele não vem. Pois não corremos a Cristo sobre nossos pés, mas pela fé; não com o movimento do corpo, mas como a livre vontade do coração.’... Os intérpretes gregos aceitam a opinião que eu adotei acima.... Esta atração está sendo exercida agora em todo o mundo – de acordo com a profecia do Senhor (12.32) e Seu comando (Mt 28.19-20).” (New Testament for English Readers, “John,” p. 521)


Similarmente, o bispo Wordsworth declarou: “Deus está pronto para atrair todos, pois Ele diz, Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus (Is 54.13).... Esta declaração não nega nosso livre-arbítrio, que é o erro dos maniqueus, mas demonstra nossa necessidade da graça divina.... Temos um Mestre que deseja dar Sua bênção a todos (versículo 45), e despeja Seu ensino celestial sobre todos. Deus atrai todos que desejam ser atraídos.” (The New Testament in the Original Greek, with Notes and Introductions, Gospels, p. 299)


O erudito Timothy Dwight, presidente de Yale e tradutor da obra de Godet sobre João, disse nesse volume em uma nota sobre este texto: “O pensamento geral desta passagem é similar àquele dos versos que imediatamente precedem – a não receptividade da alma insensível, e a vida que a alma sensível recebe através de Cristo.... Todo o desenvolvimento do pensamento neste discurso, que trata da vida interior da alma, parece mostrar claramente que, em versículos como 44 e 37, o assunto não é do propósito eletivo de Deus, mas da sensibilidade interna à influência divina. E o mesmo é verdadeiro de outras passagens similares neste Evangelho.” (Vol. II, p. 463)


Finalmente, G. Campbell Morgan disse, seguindo o versículo 44 pelo 45: “Vocês não podem vir a mim, disse Jesus, exceto se forem atraídos; mas isso não é desculpa para sua ignorância porque Deus está atraindo vocês; ‘Todos serão ensinados por Deus.’” (The Gospel According to John, p. 115)

*Samuel Fisk

06 março 2008

Precisamos Novamente de Homens de Deus

A igreja, neste momento, precisa de homens, o tipo certo de homens, homens ousados. Afirma-se que necessitamos de avivamento e de um novo movimento do Espírito; Deus, sabe que precisamos de ambas as coisas. Entretanto, Ele não haverá de avivar ratinhos. Não encherá coelhos com seu Espírito Santo.

A igreja suspira por homens que se consideram sacrificáveis na batalha da alma, homens que não podem ser amedrontados pelas ameaças de morte, porque já morreram para as seduções deste mundo. Tais homens estarão livres das compulsões que controlam os homens mais fracos. Não serão forçados a fazer as coisas pelo constrangimento das circunstâncias; sua única compulsão virá do íntimo e do alto.

Esse tipo de liberdade é necessária, se queremos ter novamente, em nossos púlpitos, pregadores cheios de poder, ao invés de mascotes. Esses homens livres servirão a Deus e à humanidade através de motivações elevadas demais, para serem compreendidas pelo grande número de religiosos que hoje entram e saem do santuário. Esse homens jamais tomarão decisões motivados pelo medo, não seguirão nenhum caminho impulsionados pelo desejo de agradar, não ministrarão por causa de condições financeiras, jamais realizarão qualquer ato religioso por simples costume; nem permitirão a si mesmos serem influenciados pelo amor à publicidade ou pelo desejo por boa reputação.

Muito do que a igreja faz em nossos dias, ela o faz porque tem medo de não fazê-lo. Associações de pastores atiram-se em projetos motivados apenas pelo temor de não se envolverem em tais projetos. Sempre que o seu reconhecimento motivado pelo medo (do tipo que observa o que os outros dizem e fazem) os conduz a crer no que o mundo espera que eles façam, eles o farão na próxima segunda-feira pela manhã, com toda a espécie de zelo ostentoso e demonstração de piedade. A influência constrangedora da opinião pública é quem chama esses profetas, não a voz de Jeová.

A verdadeira igreja jamais sondou as expectativas públicas, antes de se atirar em suas iniciativas. Seus líderes ouviram da parte de Deus e avançaram totalmente independentes do apoio popular ou da falta deste apoio. Eles sabiam que era vontade de Deus e o fizeram, e o povo os seguiu (às vezes em triunfo, porém mais freqüentemente com insultos e perseguição pública); e a recompensa de tais líderes foi a satisfação de estarem certos em um mundo errado.

Outra característica do verdadeiro homem de Deus tem sido o amor. O homem livre, que aprendeu a ouvir a voz de Deus e ousou obedecê-la, sentiu o mesmo fardo moral que partiu os corações dos profetas do Antigo Testamento, esmagou a alma de nosso Senhor Jesus Cristo e arrancou abundantes lágrimas dos apóstolos.

O homem livre jamais foi um tirano religioso, nem procurou exercer senhorio sobre a herança pertencente a Deus. O medo e a falta de segurança pessoal têm levado os homens a esmagarem os seus semelhantes debaixo de seus pés. Esse tipo de homem tinha algum interesse a proteger, alguma posição a assegurar; portanto, exigiu submissão de seus seguidores como garantia de sua própria segurança. Mas o homem livre, jamais; ele nada tem a proteger, nenhuma ambição a perseguir, nenhum inimigo a temer. Por esse motivo, ele é alguém completamente descuidado a respeito de seu prestígio entre os homens. Se o seguirem, muito bem; caso não o sigam, ele nada perde que seja querido ao seu coração; mas, quer ele seja aceito, quer seja rejeitado, continuará amando seu povo com sincera devoção. E somente a morte pode silenciar sua terna intercessão por eles.
Sim, se o cristianismo evangélico tem de permanecer vivo, precisa novamente de homens, o tipo certo de homens. Deverá repudiar os fracotes que não ousam falar o que precisa ser externado; precisa buscar, em oração e muita humildade, o surgimento de homens feitos da mesma qualidade dos profetas e dos antigos mártires. Deus ouvirá os clamores de seu povo, assim como Ele ouviu os clamores de Israel no Egito. Haverá de enviar libertação, ao enviar libertadores. É assim que Ele age entre os homens.

E, quando vierem os libertadores... serão homens de Deus, homens de coragem. Terão Deus ao seu lado, porque serão cuidadosos em permanecer ao lado dEle; serão cooperadores com Cristo e instrumentos nas mãos do Espírito Santo...
*A. W. Tozer